Em 24/06/2019 às 15:28 por Yasmin Castro | publicado em Notícias > Greves 0 comentários

            No dia 15 de maio o Brasil foi as ruas, num movimento lindo que as mídias denominaram 15M. De norte a sul do país, as grandes e pequenas cidades foram palco de fortes manifestações. Foi mesmo um grande espetáculo. Milhares de pessoas gritando a uma só voz sua indignação e sua repulsa ao que estão fazendo com a educação, pela forma vergonhosa e grosseira com que, de presidente a ministro, esse governo vem tratando uma questão tão séria e fundamental para o país, para qualquer país, como a educação.

            Os cortes nos recursos destinados ao financiamento da educação, particularmente das universidades, associados ao corte de bolsas de pesquisa da pós-graduação foram o mote para as manifestações. E foi mesmo um grande movimento. Mas não foi apenas pelos cortes na educação, não foi apenas pelo cancelamento de três mil bolsas de pesquisa, embora estes constituam motivos de sobra para irmos a rua.

            O que pudemos ver e ouvir nas ruas foi um grito muito mais forte e amplo. Um grito que foi sim contra os cortes, mas foi também contra as tentativas de calar os professores, com a verborreia de doutrinação ideológica…. Foi um grito contra o desrespeito com que são tratados professores e estudantes – sim, eles estavam lá. Em massa, gritando que o movimento estudantil existe e se fortalece. Foi um grito contra as mentiras que têm sido fabricadas com o intuito claro de destruir a imagem das universidades e confundir a população, colocando-a contra os professores. Estratégia que já vem sendo usada a algum tempo com relativo sucesso.

            Não à toa, começaram a surgir nos grupos de WhatsApp, ao mesmo tempo em que se anunciavam os cortes, imagens e memes contra as universidades públicas, com conteúdos que claramente buscam desqualificar as universidades, por meio de imagens com teor sexual, imagens com supostos estudantes nus no ambiente universitário, além da publicação de teses e monografias criticadas por seu conteúdo.

            Com isso tentam colocar a universidade como lugar de “balbúrdia” e de “doutrinação ideológica,” somando com as palavras e ações do governo e, dessa forma, preparando o terreno, plantando as sementes para, enfim, cumprir o real objetivo, que sempre esteve na agenda governamental: a privatização das universidades públicas. Projeto dos neoliberais desde sempre.

            Sim, foi sempre esse o plano.

            Desde Fernando Henrique Cardoso (FHC), na década de 1990, planos de privatização das universidades públicas são organizados. Com efeito, a introdução das ideias e das políticas neoliberais no Brasil se deram principalmente durante esse governo, que protagonizou inúmeras tentativas de sucateamento das universidades com o claro propósito de apresentá-la como ineficiente e, assim, privatizá-la.

            Uma olhada mais detalhada para esse processo e poderemos enxergar dois pilares importantes na luta contra a privatização das universidades: de um lado, a luta sindical, com manifestações e greves que, é preciso que se diga, foram fundamentais contra os planos privatistas dos governos neoliberais, e também contra planos de governos que, embora oriundos de movimentos sociais, alinharam-se em torno de propostas que buscavam transformar a educação num grande negócio a ser explorado pelo mercado.

            Um segundo pilar de sustentação das universidades públicas tem sido o fato de que, em que pesem as tentativas de sucateamento, em que pesem os muitos cortes dos recursos necessários para seu desenvolvimento e funcionamento, é lá – é aqui – nas universidades, particularmente nas universidades públicas, que se produz Ciência no país. Ou seja, nas universidades públicas, majoritariamente, que se produz conhecimento, que se produz Ciência no Brasil, fato reconhecido internacionalmente.

            É isso que o governo não pode negar, e que tenta destruir. E dessa vez com uma ousadia inimaginável. Por isso que nosso grito foi mais forte e foi ouvido por toda parte do mundo, num reconhecimento de que estão, mais uma vez, tentando destruir um patrimônio de tamanha grandeza da sociedade brasileira.

            O movimento de 15 de maio trouxe algo que está além da indignação. Pois, ao lotar ruas e avenidas, ao juntar professores e estudantes de diferentes níveis de ensino, deixou patente nossa capacidade de ser resistência. Representando, assim, uma barreira que se está erguendo contra os ataques do governo, ao mesmo tempo em que se mostra, mais uma vez, para a sociedade, aquilo que, embora óbvio, precisa, às vezes, ser lembrado: que não se faz um país democrático e desenvolvido sem educação. Em todos os níveis. Da educação infantil a pós-graduação.

            Além da luta por educação, o 15 de maio trouxe, também, e isso é muito importante, o protesto contra as injustiças imensas e as muitas formas de violência que crescem e se reproduzem nesse país. Injustiças e violências que têm um alvo preferencial: a juventude pobre e predominantemente negra, a quem tem sido negada, desde sempre, a possibilidade de uma vida plena. A quem tem sido negada educação, saúde, segurança e trabalho. Assim, o dia 15 é, também, uma demonstração de que sim, nós podemos barrar essa barbárie!

            Frente a ampla divulgação das manifestações nos meios de comunicação, nas mídias convencionais e nas redes sociais, ouvimos, num misto de surpresa e sensação de déjà vu, o presidente referir-se ao movimento como sendo manifestações de “uns idiotas úteis, uns imbecis” que seriam “massa de manobra” de “professores doutrinadores”.

            A posição do presidente não pode nem deve ser vista como ignorância, pois sua fala diz muito de seu projeto para o país. Sim, ele tem um projeto, apesar de sua aparência de não-projeto. Trata-se, na verdade, de um projeto de dominação pela ignorância, que tem se traduzido nos ataques à educação e à cultura, em suas diferentes formas de manifestação.

            Um projeto que cabe como uma luva nas demandas do mercado, com sua clara intenção de colocar suas garras ávidas por lucros nos setores da educação, da saúde e da previdência social, setores associados aos direitos sociais básicos fundamentais para a sociedade.

            Por isso nossa luta é tão importante. Porque temos que estar sempre atentos, sempre alertas e sempre dispostos a lutar para garantir nossos direitos, e não deixar que eles se transformem em mercadorias para gerar lucros e ampliar a riqueza de alguns, em detrimento da vida e da dignidade humana.

            Nossa luta foi ontem, mas tem que ser hoje e também amanhã. Porque são nossos direitos, é nossa vida e nossa humanidade que estão em jogo.

 

 

             Profª Ana Lúcia de Sousa - Ciências Sociais/UFRR.

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