Da resistência a organização dos povos indígenas
Roraima é um estado que congrega grande percentual de indígenas: mais de 90 mil indígenas vivendo nas comunidades, situadas em diversas regiões do estado, e 30 mil que moram nas cidades, representando quase 20% da população. Conforme o CIR (Conselho Indígena de Roraima) existem 470 comunidades indígenas, distribuídas em 10 etnias (Macuxi, Yanomami, Patamona, Ingaricó, Wai Wai, Taurepang, Sapará, Wapixana, Maiongongs e Xiriana).
Os povos indígenas de Roraima enfrentaram e enfrentam o processo de expansão das fronteiras do sistema capitalista. Há várias pesquisas que mostram os diversos massacres praticados pelo Estado brasileiro contra os povos indígenas amazônicos no período da ditadura militar (1964-1985), com marcas desse processo que perduram até hoje.
Um dos massacres emblemáticos foi contra o povo indígena Waimiri-Atroari, entre os anos 1964 e 1988, que ocorreu em nome do “desenvolvimento”, com a construção da BR-174 (que liga Manaus a Boa Vista) e da hidroelétrica de Balbina, ambas dentro de suas terras. Além disso, o Estado também permitiu a atuação de mineradoras e garimpeiros nas áreas habitadas pelos povos Yanomami, Macuxi e Wapixana, interessados em explorar as jazidas de minérios em seu território. As reservas e comunidades indígenas ainda estão em risco de invasão de seus territórios, visto que tramitam projetos de lei para legalizar a grande mineração nas reservas indígenas, inclusive com extração do nióbio, presente em áreas indígenas. O que pode significar mais um massacre aos povos indígenas devido as mais variadas contaminações ambientais.
Com os diversos massacres, invasões das terras tradicionalmente habitadas, preconceitos e exclusão social, os povos indígenas se organizaram e constituíram organizações em defesa de seus direitos, com ênfase na luta pela demarcação e homologação das terras indígenas.
Existem, atualmente, 22 terras indígenas demarcadas no Estado, sendo uma, a Pirititi, que fica localizada na divisa de Roraima com o Amazonas, ainda em processo de regularização. Cerca de 10 milhões de hectares são ocupados por povos indígenas, ou seja, 46% das terras roraimenses.
Apenas algumas dessas áreas demarcadas já foram homologadas e uma delas significou grande vitória das organizações indígenas: a homologação da terra Indígena Raposa Serra do Sol, em 2005. Para este fato se consolidar foi fundamental a atuação das organizações indígenas, como o Conselho Indígena de Roraima (CIR), Associação dos Povos Indígenas de Roraima (APIR), Organização das Mulheres Indígenas de Roraima (OMIR), Organização dos Professores Indígenas de Roraima (OPIR), assim como o apoio dos movimentos sociais, um deles o Conselho Indigenista Missionário, e várias entidades sindicais.
Para além da conquista da terra, os indígenas necessitam do reconhecimento e da valorização de sua cultura. As lideranças acreditam que o maior desafio hoje é a implementação de políticas públicas voltadas a atender a educação e a saúde dos povos.
Nesse sentido, eles criaram a OPIR (Organização dos Professores Indígenas de Roraima), uma entidade que organiza os docentes indígenas e a luta por uma educação de qualidade e diferenciada para atender a cultura dos povos indígenas. Foi por meio desta Organização, que os indígenas conseguiram, no espaço da UFRR, a criação do Insikiran, trata-se de um Instituto específico para receber estudantes indígenas nos cursos de Licenciatura Intercultural, Gestão Territorial Indígena e Gestão em Saúde Coletiva, além da luta para garantir vagas específicas indígenas nos demais cursos da UFRR.
Em agosto do ano passado, durante a greve, o estado teve noção da força de organização deles, onde mais de dois mil indígenas acamparam na Praça do Centro Cívico, para pressionar o governo local a atender as exigências. O plano Estadual de Educação que estava para ser aprovado não contemplava as escolas indígenas. O governo voltou atrás e incluiu o item no Plano, porém as escolas indígenas funcionam de maneira precária, algumas sem a menor estrutura, improvisadas em barracões, além da falta de merenda, professores, pessoal de apoio, materiais didáticos, entre outras mazelas.
A situação tem se complicado frente a economia capitalista em crise e a política de ajustes ficais, que penaliza o conjunto dos trabalhadores, trazendo maiores dificuldades aos povos indígenas, apontando a necessidade de reforçar a luta para manter os direitos já conquistados, além da resistência contra o preconceito étnico-cultural que contribui para a exclusão social.